2.9.07
O inicio de Sonia
De certo o título “Papel Pobre” é uma paródia ao blog “Papel Pop” do jornalista e editor do site da Revista Capricho, Phelipe Cruz. Contudo, a semelhança pára por aí: o conteúdo entre os dois blogs é gritante (numa entrevista, a futura persona do Papel Pobre chegaria mesmo a dizer que “ele [Phelipe] faz questão de ter conteúdo enquanto nós não”) e a linha seguida se aproxima muito mais do site Perez Hilton, que segue o estilo do tablóide inglês dedicado aos astros norte-americanos, com fotos que levam comentários e desenhos toscos feitos no Paint. Do Papel Pop a única paródia teria sido as fotos-novela que eram feitas no início.
Numa sociedade dedica ao culto à celebridade, vê-las mais humanas é deveras excitante – se existe algo de deliciosamente malicioso ao falar mal do colega de trabalho, o que dirá de celebridades que não possuem fundo artístico (e até mesmo aquelas que são excessivamente artísticas). Se Perez Hilton experimentava sua “subida social” na internet, Big Brother Brasil, Paris Hilton, Britney Spears e seu constante uso de drogas propiciaram um ótimo ambiente para que Sônia Abraham expandisse seu conteúdo e originasse uma nova personagem.
Katylene Beezmarcky, a travesty de Xerem
Essa notícia, além de publicada na Folha, foi postada por Phelipe em seu site, onde nos comentários já se noticiava a existência do blog-paródia. Através da notícia da Folha ou da “brecha” de Phelipe novos rumos apontariam para Angela que, deixando o corpo da modelo esculpido pelo marido cirurgião-plástico, originou Katylene Beezmarcky, travesti nascida em Xerém, subúrbio do Rio de Janeiro, que tem como paixão escrever e freqüenta o curso de alfabetização para crianças portadoras de necessidades especiais.
Abandonando os posts longos, Papel Pobre define seu humor com frases curtas e rápidas, sacadas geniais, muitas fotos e um aguçado senso de observação. Da festa do Oscar as premières de filmes, as principais fontes de informação são os sites estrangeiros. Katylene personifica uma (duas) pessoa culta, fluente no inglês, capaz de fazer referências multiculturais em um único post.
O blog vive um momento agradável de contracultura, underground ao já underground mundo dos blogs. Via-se, quando muito, apenas 20 pessoas comentando (futuramente ter-se-ia picos de 500 comentários em um único post) – os lugares-comuns tomam forma: Britney Spears vira Nonô, a vocalista do Black Eyed Peas, Fergie, é tomada pela alcunha de Fergalinha e é a (des)preferida de Katylene no quesito beleza, Paris Hilton e sua prisão, as padêzeiras: Amy Winehouse, Lindsay Lohan e a briga entre Kelly Clarkson e seu peso. Antes do momento “Umidificação do dia” posts são dedicados a Marc Jacobs e ao jogador de futebol David Beckham e a época do “Rehab is the new black”. Lu é a primeira subpersonagem, vendendo conhecimento através da Wikipedia e se passando por Barsa.
A partir de agora se tem o início da vertiginosa escalada do papelpobre.blogspot.com no gosto do internauta. Leitores do Papel Pop e do Pobre começam a disputar entre si opiniões sobre qual blog é o melhor e qual blog noticiou tal fato primeiro. Katylene assume definitivamente a figura que povoa o imaginário dos leitores do blog.
A nova onda mortal
O humor de Katylene certamente agrada aos leitores e seu blog começar a alçar cifras maiores: os comentários aumentam de forma visivelmente significativa e as atualizações diárias mantêm a fidelidade do internauta ávido por diversão. Quadros são fixados como, por exemplo, “Umidificação do dia”, “Vomitadinha do dia”, “Momento Ego” (dando agora espaço às celebridades nacionais, antes preteridas pelas internacionais) e expressões como “chique ou cheque?” e “losho ou lesho?”.
Contudo, o grande salto se deu por uma façanha jornalística categórica: em primeira mão Katy noticia um print-screen onde o ex-BBB DanDan se masturba para a travesti Renata Finsk. Mesmo o referido post ter sido apagado posteriormente, repercussões foram causadas: Renata Finsk e DanDan soltaram uma nota oficial desmentindo o fato, que foi noticiado pelo site do provedor Terra que creditou devidamente sua fonte – não só uma vez como várias outras. Esse foi apenas o princípio do sucesso do Papel Pobre.
Katylene é entrevistada em vários sites, aparece no Mix Brasil, Érika Palomino, Kibe Loco e é citado por Evandro Santo, o personagem Christian Pior do programa Pânico na TV.
O site chega a reunir 300 pessoas on-line ao mesmo tempo, uma média superior a 100 mil visitas semanais e uma comunidade no Orkut que passou dos 1000 membros - é a paródia que superou o parodiado. É sabido que Phelipe é dono do domínio meunomeeregina.blogspot.com, sensação àlgum tempo atrás da internet. É sabido também que Phelipe comentava no Papel Pobre através deste blog – e houve também rumores que ele se dizia a pessoa por trás da máscara de Katylene.
"Katy, é você?" ou "A meia-verdade"
A identidade de Katy, entretanto, fez com que as pessoas ficassem curiosas para saber quem é mente genial por trás de toda a dose de humor sarcástico e cáustico que fascina. Muita especulação girou em torno dessa máscara que tinha a forma de um travesti nascido em Xerém. Nos comentários alguns anônimos evocam o nome de Mariana e Daniel, como se soasse uma ameaça ou um fantasma que retorna do passado.
Adriana Spaca respondeu a essa pergunta, ou melhor, metade dela. “Nenhum segredo é grande o suficiente para ser guardado eternamente na internet”, disse ela. E, realmente, o de Katylene não foi.
Daniel, umas das Katys reveladas, recebeu em seu Orkut uma mensagem de um amigo, “a Adriana Spaca te revelou”. Não só revelou a foto do rapaz como seu perfil na rede de relacionamentos. Daniel então colocou a mesma foto no Papel Pobre como “Vomitadinha do dia” sob a legenda que, com apenas três palavras, teria uma significância insuportavelmente absurda: Katy, é você?".
Realmente foi um vômito convulsivo e coletivo a revelação inesperada. Entretanto, antes de toda a reviravolta outro personagem entrou na história.
Ricardo-ando-meio-desligado e o seqüestro relâmpago
Os comentários de Ricardo podem ser acompanhados desde o princípio do blog. Participativo nos comentários, cunhou o termo “chat-line” e foi o criador da comunidade do Papel Pobre no Orkut.
Ele deve ter sido um dos primeiros a ver o post bombástico de Adriana Spaca – como ele mesmo disse, “queria ver a lenha na fogueira” – que tomou proporções de incêndios. Na comunidade ele citou o blog drispaca.blogspot.com que falava a verdadeira identidade de uma das pessoas que dava vida a Katylene Beezmarcky. Depois disso, como ele mesmo diz, “a tropa de choque de Katy no Orkut [possivelmente dois perfis que, se não pertencerem aos criadores do Papel Pobre, pertencem a pessoas muito próximas deles, Madame Gongadeira e Márcia G] fuçou a minha página do orkut e fez um post muito baixo. Tudo pra tentar desviar a atenção. Não conseguiram. O Orkut e a página viraram um rebuliço só por conta do Katygate. Quebra-quebra, chiadeira e muita comoção”.
Depois de Daniel se auto-revelar no Papel Pobre, continuou a publicar novamente (o próximo post depois do “Vomitadinha do dia” foi “De volta a nossa programação normal)”. Entretanto no dia seguinte, uma sexta-feira pela manhã, o Papel Pobre estava fora do ar, seu domínio tinha sido deletado repentinamente e Daniel cancelara seu perfil no Orkut. A desgraça de Adriana Spaca teria sido essa inesperada estratégia de Katylene Beezmarcky ao apagar o blog (no dia do blog!) que no último mês tinha causado furor na internet.
Ricardo pensou em até mesmo continuar com o Papel Pobre para si mas desistiu da idéia:
Mas rolou uma idéia de uma Katylene impostora e continuar com o Papel Pobre. Criei e-mail e conta no blogger e um orkut. Eu tinha os posts antigos no histórico do meu navegador e com o AdSense eu iria faturar muito. Hoje (sábado) comecei a criar o novo Papel Pobre. Criei uns posts mas quando li os primeiros comentários desisti da idéia. Tremi na base. Mesmo apagando meu Orkut, sabiam meu nome e foto, eu não teria paz. Daí eu decidi apagar de verdade o blog e libertei o domínio”.
Sorte ou Revés?
Adriana Spaca certamente não contava com a etimologia de fã, do inglês fanatic. Como Rosana Hermann disse:
Mas a Adriana precisava realmente de ter feito o que fez? Por que ela se referiria a Daniel como "uma bicha vagabunda"? Quando nós deixamos o Papel Pobre ou quando o Papel Pobre nós deixou e o mundo em geral, ainda existe uma pergunta que não será respondida aqui.
Fínnicio
Seria o fim do blog que se tornou sensação da blogsphera ou apenas o início para aqueles que foram pioneiros de uma nova forma de humor que mobilizou boa parte dos internautas? Seria Daniel o filho de chanceler que fará o curso de Rita Weiner, estilista da grife Theodora?
São perguntas que nos restam a fazer com a desolação de não poder ter as respostas. Daniel esteve nesses últimos dias no olho de um furacão que varreu corações enfurecidos e vingativos. Será que teremos notícias em breve do rapaz? E onde se encontraria Mariana, a outra metade de Katylene Beezmarcky e que formas teria?
O legado do Papel Pobre é grande – algumas comunidades, açgumas tentativas prematuras, uma delas chamada “Plástico Rico” e vários leitores desesperados. Um dos legados é este, um blog feito para homenagear a história do que me fez rir por um semestre a fio.
Personagens que saem da vida de repente definitivamente deixam sua marca na história – Marilyn Monroe e Getúlio Vagas são apenas um dos exemplos. Causam furor e fúria, indignação, ódio e paixão, e por isso são geniais – dão e tiram da massa aquilo que todos nós necessitamos: passionalidade. Fenômenos na Internet causam sensações momentâneas e efêmeras, quase que passageiras; “Ruth Lemos” e “Fala, Sônia”, poderá alguém ainda lembrar-se delas? Contudo, nenhuma delas pode nos cativar tanto quanto a travesti de Xerém, Katylene Beezmarcky, que nos embalou em sua paixão por escrever e é aí que reside seu diferencial (e potencial).
Em tempo: "Márcia Uósmith" começou a postar no papelpobre.blogspot.com que, assim como o Ricardo, sofreu retaliações logo nos primeiros posts e abandonou a árdua e impossível tarefa de perpetuar o estilo de Katylene. Resta-nos agora ver até quando se desenlaça essa história e saber que fazemos parte dela.
So now, what?
Esta noite eu tive um sonho. Não era bem assim que eu queria começar – mas, de fato, eu tive um sonho. Sonhei que ia ao Rio de Janeiro, procurando pela menina sem rosto que ainda é a Mariana, “baixinha complexada”. Depois de procurar sem sucesso no Posto 10 – Copacabana, point das travas – me dirigi até Brasília, em busca do Daniel, príncipe rabiscado e colorido a agulhadas. De certo nossa capital federal é plana, cinza, monótona e encontra-lo lá seria como encontrar algo que se busca e não se sabe o que é.